sábado, 18 de março de 2006

Conto "As Quatro Estações".

O conto "As Quatro Estações" foi publicado na antologia literária Palavras Além do Tempo (2004) pela Litteris Editora. Esse conto foi escrito especialmente para o Concurso Nacional de Literatura, cujo tema é o mesmo que dá nome ao livro.

Eu o escrevi crente que seria publicado, pois achava a sua história muito interessante e, modéstia à parte, muito criativa também.

Apesar de não constar entre os três finalistas, fui convidado para compor o livro. E além de ter pago pela publicação do mesmo, posso me sentir orgulhoso por ter sido agraciado com esse Prêmio de Edição.

Afinal, pelo simples fato do meu conto estar presente em um livro é motivo de orgulho para qualquer escritor. E além disso, tive a oportunidade de expor as minhas idéias e pensamentos.



AS QUATRO ESTAÇÕES


O perfume da primavera exalava naquelas flores. E foi a primeira vez que Benício olhava fascinado para o pequeno jardim lá fora. Percebia que o mundo era grande demais para percorrer com os seus pezinhos, enquanto que as suas mãos eram muito pequenas para capturar uma borboleta que esvoaçava ao seu redor. Sentia vontade de registrar esse momento, mas infelizmente apenas a linguagem verbal era o único meio de descrever o que presenciara ainda criança.

Os anos floresceram. E aprender a ler e a escrever foram os primeiros passos para registrar finalmente todas as suas impressões sensoriais acerca do mundo. Entusiasmado, carregando consigo pensamentos e idéias de uma criança de oito anos, toma coragem e escreve as primeiras linhas da sua vida:


Meu jardim

A borboleta amarela voa.
O pássaro bebe água.
O sol brilha.



Um sorriso incontrolável o domina, seu coração bate a mil por hora. Olha orgulhoso a sua pequena obra-prima. Depois guarda o papel num lugar secreto, como se estivesse escondendo um valioso tesouro.

Findo a primavera, o verão aquece ainda mais o desejo de aprimorar o uso da escrita; para enriquecer o vocabulário, lê diversos livros e aprende a usar o dicionário. Aos doze, tira do esconderijo o que escrevera na sua meninice e reescreve:


Meu jardim

Uma borboleta amarela voou para o meu jardim.
Tem um pássaro bebendo água da fonte.
Lá em cima o sol brilha. Ele sorri para mim e para todos.




Após escrever essas linhas, sorri satisfeito; e novamente coloca no lugar o seu maravilhoso tesouro.

O verão deixa saudades, enquanto que o outono teimava em chegar: as folhas caíam para ceder lugar a novos sentimentos. Benício: 15 anos, adolescente, cabelos compridos, pura adrenalina, geração saúde. Resolve pegar aquela folha de papel que registrara anos atrás. Lê ironicamente, ora avaliando, ora reprovando. Apaga o que escrevera em épocas remotas, pega um lápis, capricha na letra e descarrega uma bomba:


Meu jardim

Há uma borboleta psicodélica no meu jardim. Agarro-a e faço dela parte da minha coleção, espetando para sempre o seu último alvorecer.
Vejo um pássaro totalmente branco: penso na paz no mundo e na harmonia entre os homens.
Conheci o maior dos sentimentos universais: o amor. Débora é a minha deusa, a minha rosa, o meu sol.


Novamente guarda o papel. Com os olhos cheios de confiança, veste a roupa da ousadia, pega a sua mochila cheia de sonhos e sai para o mundo.

O outono amarelou o tempo, cedendo lugar ao inverno. E o ar frio congelou – por algum tempo – a paisagem da vida. Enquanto Benício entrava em casa naquele dia, viu no semblante do avô a marca da morte. Aos dezessete, ele aprendera naquele instante a brevidade da vida.

Após o seu enterro, as lágrimas secaram graças ao calor dos amigos e dos parentes. Benício respira fundo, pega aquele velho papel, uma caneta e reescreve:

Meu jardim

O inverno chegou. E junto com ele, soprava um vento gelado que dava calafrios.
A borboleta pousou no meu jardim, transformando-se numa mariposa enorme e negra. Beijou-me na face, trazendo pela primeira vez o beijo da morte. Era insípida, fria, inodora, vazia.
O pássaro branco perdeu as suas cores, tornando-se cinza. Transformou-se num corvo, grunhindo sem parar aquela palavra vil que acabara de conhecer.
O sol escureceu, sendo apagado pela noite.

Em seu quarto, com os olhos vermelhos de tanto chorar, guardava no local secreto a sua tristeza. Depois, olha para uma foto, e sorri. Era o retrato da Débora, despertando nele várias lembranças; e um futuro que ainda será escrito por ele. Com ela.

Súbito, o inverno derrete com a chegada da primavera.

E as areias do tempo escorrerão mais uma vez. E a primavera irá embora. E em breve surgirá outro verão, outro outono e outro inverno.

Poema "Viagem".


O poema abaixo foi publicado na antologia literária "O Sonho" (1999) graças a um Concurso Nacional de Literatura realizado pela Casa do Novo Autor Editora.

Esse poema foi escrito na época em que estive estudando engenharia elétrica na Unesp (campus de Bauru), entre os anos de 1992 e 1993. Nesse exato momento, foi o meu melhor poema já escrito: profundo e filosófico.

A maioria das pessoas que o leram adoraram a sua mensagem. É, na verdade, um poema que fala sobre a busca que todo ser humano faz algum dia, ou alguma vez já pensou a respeito.


VIAGEM


Eu sonhei uma vez
que olhava pelo vasto campo ao meu redor,
e pensando como atravessá-lo com o mínimo esforço,
transformei-me repentinamente numa gazela
para atravessar o mais rápido possível
os campos, as florestas, as pradarias,
para observar a imensidão do mundo,
as cores de naturezas diferentes,
o nascer e o pôr-do-sol
em diversas partes do globo.
Mas eu me deparei
com um obstáculo que me deixou imobilizado,
apático, sem saber como prosseguir
a minha incrível jornada:
o oceano.


Então eu me transformei
num golfinho,
criatura dócil e inteligente,
para atravessar a imensidão azul
e descobrir a beleza fascinante
que existe no fundo dos oceanos,
ver os seres interessantes,
observar as plantas exóticas,
conhecer e desbravar
o desconhecido mundo aquático.
Mas um acontecimento inesperado
fez-me triste e cabisbaixo,
quando vi o inalcançável aos meus olhos
ao subir a superfície:
o céu.


Olhei para mim
e percebi que havia me transformado
num condor,
a ave capaz de voar
o mais alto possível,
fazendo viagens inimagináveis,
sentindo o cheiro do vento,
sentindo a liberdade correndo nas minhas plumas,
sentindo o calor refrescante do sol,
observando as terras, as planícies, as pradarias,
os mares, os oceanos,
as montanhas, os vales,
enfim, a magnitude do universo.
Mas subitamente eu percebi
que existia uma criatura
capaz de fazer todas essas proezas
sem se transformar
numa gazela
num golfinho
num condor.
Eu reparei que não havia necessidade
da incrível transformação.
Eu reparei que existia uma criatura
capaz de fundir as três mencionadas.
E quando eu iria me transformar
nessa maravilhosa criatura,
a ansiedade de conhecer a amargurante resposta,
ocorreu o que geralmente
acontece nos sonhos:
eu acordei.


Mas ao acordar,
um suor frio percorreu o meu corpo,
e tateando no escuro do quarto
para encontrar o interruptor
e clarear as minhas idéias,
a primeira coisa que meus olhos viram
foi o meu reflexo no espelho.
Percebi, então, a criatura maravilhosa
que eu sempre quis encontrar,
capaz de fazer tudo o que ela quiser,
capaz de realizar os sonhos
que geralmente julgam serem impossíveis,
capaz de construir monumentos e máquinas
para aprimorar o seu destino.
E apesar também
da morte e da destruição
que essa criatura pode causar
e que está causando,
acredito na beleza e na esperança
dessa criatura em construir
um mundo melhor.


E ao pensar em tudo isso,
percebi uma pequena gota de lágrima
escorrendo pelo meu rosto,
simbolizando o entendimento
da incrível viagem
em busca de mim mesmo.

domingo, 12 de março de 2006

Retiro das palavras. Solitude do pensamento.

Desde criança, sempre gostei de ler. Viajava pelo mundo dos livros, povoando a minha mente com o universo mágico das letras. Foi essa a preparação inicial antes de ingressar no mundo da literatura.

E um dia, como por encanto, o dom irrompeu dos meus dedos como flama, libertando para sempre aquele mesmo universo das letras: a arte de escrever.

Sou graduado em duas faculdades: engenharia elétrica (Unesp-Campus de Bauru) e Publicidade e Propaganda (Universidade Presbiteriana Mackenzie). Porém, resolvi trilhar o caminho da propaganda para ser redator publicitário.

Possuo um poema publicado ("Viagem") na antologia literária O Sonho (1999) pela Casa do Novo Autor Editora. E o conto "As Quatro Estações" na antologia literária Palavras Além do Tempo (2004) pela Litteris Editora.

Não me arrependo das decisões tomadas por mim durante o reencontro do "eu-mesmo". Afinal, ser Engenheiro me fez ver o mundo mais concreto e automatizado; ser Publicitário me deu condições para diagramá-lo melhor; e ser Escritor ampliou meus sentidos para entendê-lo e sonhar uma utopia com prosa e verso.